Nome popular: Branchoneta, Artêmia de água doce.

Nome científico: Dendrocephalus brasiliensis

Branchonetas são as primas de água doce das Artemias salina, seu ciclo de vida desenvolve-se complentamente em água doce tornando o seu cultivo mais prática que em relação a água salgada, bastando que se observe as particularidades do seu ciclo.

Branchoneta: alguns comentários sobre o ciclo de vida e coleta:

As branchonetas representam o ancestral dos crustáceos - que manteve a sua estrutura corporal e ciclo de vida sem modificações até a atualidade. Este caráter primitivo e simples as torna vítimas das modificações ambientais provocadas pelo ser humano nos últimos séculos.

Como a branchoneta se desenvolveu no planeta antes que outros animais, ela não apresenta qualquer defesa contra predadores. Por isso, geralmente só ocorre em corpos d´água temporários (lagos ou poças d´água) em que os predadores não estão presentes. Está tão adaptada a este tipo de ambiente, que não ocorre em outros, pois:

  • O ovo da branchoneta é um cisto de resistência que permanece no sedimento seco, às vezes durante vários anos. Quando ocorre uma chuva suficiente para empoçar água , o cisto eclode e nascem as larvas. Em cerca de 10 dias, a branchoneta atinge a maturidade sexual, copula e passa a por ovos. Entre 20 a 30 dias após o nascimento, morrem por velhice. Tal ciclo de vida coincide com o ciclo de encher e secar as poças.
  • O ovo da branchoneta só eclode se for seco antes. Em contraste, a sua prima hipersalina Artemia pode gerar "filhotes" se as condições ambientais  estiverem boas, passando a produzir ovos de resistência apenas quando há estresse ambiental. Assim, se a branchoneta produziu ovos em um lago que não seca naquele ano, os ovos ficam depositados no sedimento, sem ecodir, enquanto as brachonetas genitoras já morreram de "velhas". O lago pode então não apresentar nenhum indício da existência de branchoneta "viva", até que uma nova geração venha a nascer. Isto ocorre quando o nível da água no lago desce um pouco, secando os ovos naquela faixa, e voltando a encher temporariamente após uma chuva. Provavelmente foi isso que ocorreu no lago em que vocês estiveram.
  • A dispersão dos ovos da branchoneta é efetuada por aves aquáticas, quando os ovos ficam grudados nas patas e penas destas aves. Atualmente, até os pneus e rodas dos carros podem atuar como dispersores de ovos entre as poças de água das estradas de terra. No Nordeste, nos locais em que as estradas vicinais têm grandes poças, que fiquem pelo menos duas semanas com água empoçada, pode ocorrer a branchoneta.
  • Como a branchoneta não pode existir em locais onde haja predadores (principalmente peixes), as poças d´água e lagos onde ela ocorre geralmente não mantém ligações com rios ou córregos perenes. Por isso, no mundo, as branchonetas são muito mais frequentes em regiões áridas ou semi-áridas. Em regiões úmidas, como a da mata atlântica ou a amazônica, elas estão ausentes. Aqui em SP, até hoje não há constatação de branchoneta autóctone.
  • A branchoneta pode ocorrer em tanques ou viveiros de piscicultura que sejam drenados e secos periodicamente. Isso ocorre especialmente nos tanques de larvicultura de peixes, em que o tanque é enchido uma semana antes de colocar as larvas de peixes. Neste período, as branchonetas nascem e crescem rapidamente, de modo a serem grandes em relação às larvas para serem predadas. Quando as larvas de peixe crescem, as branchonetas já estão desovando, e propagando a geração seguinte.
  • O local típico de ocorrência da branchoneta são as poças d´água ou brejos, especialmente os que venham a secar (completa ou parcialmente) num ano ou outro.
  • Para coletar amostra, o mais viável e prático é coletar o sedimento que potencialmente contém os ovos, e não os animais vivos (que são muito sensíveis). Coleta-se uma camada superficial do sedimento, até 1 cm de profundidade , para formar uma amostra com cerca de 200 ml. Coloca-se a amostra num saco plástico fechado (não precisa deixar ar), e pronto.
  • O sedimento pode ser coletado tanto de local seco (que esteve submerso na época da chuva), como úmido ou submerso. Se o material contiver raízes ou pedras, estes podem ser removidos para facilitar o acondicionamento, já que os ovos ficam misturados ao sedimento fino.
  • As amostras podem ser mantidas por longo prazo tal como foram coletadas. Se for desejável secá-las para diminuir a massa ou volume, é só deixar secar naturalmente à sombra.
  • O mais importante é não deixar que o material das amostras se misture durante ou após a coleta. Como os ovos são microscópicos, podem acabar se misturando no instrumento de coleta, se ele ficar com terra aderida da amostragem anterior.

 

Dr. Ricardo Y. Tsukamoto
Com Autorização;

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