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É muito comum quando se é iniciante no aquarismo, notarmos que um de nossos peixinhos está barrigudo, mais gordo do que o normal. E no dia seguinte já está magro, com o ventre voltado para dentro. Observando o aquário percebemos um "pontinho" em movimento perto do substrato. Com mais atenção vemos que não é apenas um mas sim vários... Filhotinhos! Alevinos idênticos aos pais que que provocam surpresas aos aquaristas desavisados.

Isso geralmente acontece com os Poecilídeos, peixes capazes de gerar seus ovos dentro de seu ventre até a hora da eclosão, quando são expulsos do corpo da mãe já relativamente desenvolvidos. Diferentemente dos mamíferos, não ocorre ligação placentária dos alevinos com as mães, logo são ovovivíparos. A fecundação é sempre interna com o macho fertilizando os óvulos das fêmeas através de sua nadadeira anal modificada especialmente para essa finalidade, o gonopódio ou o andropódio dependendo da espécie. A gestação demora algo entre 28 à 32 dias e depende de alguns fatores como temperatura, pH, etc. Quanto mais quente mais rápido ocorre o nascimento. Um pH alcalino (7,2 à 7,6) também ajuda muito.

Nessa família os machos são muito ativos sexualmente e sua rotina básica é procurar por comida, dormir e tentar reproduzir, sempre... Tanto é que devemos ter um número maior de fêmeas por macho. Qualquer número a partir de 2 por macho já é considerável, mas há quem defenda 5 para mais. Sabe-se que na natureza, Guppys, por exemplo, existem na proporção aproximada de 1 macho para cada 12 fêmeas aproximadamente, é possível entender agora o porquê deste apetite sexual. Se não fosse assim eles não conseguiriam fecundar todas as fêmeas e não perpetuariam a espécie.

Alevinos de Poecilideos

Sobre a água, são incondicionalmente peixes de águas tropicais (26 até 32°C) - com exceção dos Platys que vivem em águas mais amenas de 20 à 26°C, de pH alcalino (7,1 até 7,8), dureza média (6 até 20°), alguma salinidade dependendo da espécie (Molinésias por exemplo preferem águas salobras) - mas em todo o caso praticamente todos eles toleram certa quantidade de sal na água, aquários bem plantados, com uma boa iluminação e correnteza mediana. Volumes a partir de 50 litros são uma boa opção, dependendo da espécie (Mollys Velíferas e Espadas precisam de aquários obrigatoriamente a partir de 80 litros devido ao tamanho que atingem e pela territorialidade no caso dos Espadas).

A capacidade de liberar os alevinos já desenvolvidos e com o saco vitelino consumido garante uma chance à mais de sobrevivência a espécie. Os filhotes já nascem bem grandinhos e espertos. Aproximadamente de 3 até 6 mm, tamanho mais que suficiente para saber se virar sozinho e comer alimentos maiores (por isso são mais criados por iniciantes, são bem mais fáceis de se cuidar e não exigem alimentação especial especial) como ração de adultos triturada. Logo que nascem sabem que devem fugir das mães, já que entre esses peixes é muito comum o canibalismo. Sobem primeiramente à superfície para apanhar o primeiro gole de ar para encher suas bexigas natatórias e após se escondem por um tempo, para depois sair a procura de comida.

As espécies mais comuns de Poecilídeos que encontramos são Lebistes, Platys, Molinésias, Espadas, Agulhas, Tralhotos, Guarús, Agulhinhas (Meio-Bicos), Amecas etc.

Quando notamos que uma fêmea está prenha, temos duas formas básicas de tentar salvar os filhotes: usando aquários maternidade e criadeiras.

O aquário maternidade é um aquário comum, que deve ter um volume de 15 até 30 litros, água com pH e temperatura igual ao do aquário principal, sistema de iluminação, aquecimento e filtragem normais e adequados. Preferencialmente não terá cascalho nem nada como substrato e terá muitas plantas. Explicando de forma clara e objetiva:

Faz-se assim: quando notar uma fêmea mais gordinha que o normal, preparar antecipadamente o aquário maternidade (pode ser o mesmo usado como quarentena), quando a fêmea estiver bem gorda, com respiração ofegante, inquieta ou parada na superfície ou nos cantos escondidos do aquário, capturá-la delicadamente e colocá-la na maternidade. Alimentar normalmente, assim como apagar e acender as luzes como se fosse um aquário comum. Podem inclusive ser colocadas mais de uma fêmea por aquário, bastando ter uma boa vegetação.

Mais cedo ou mais tarde ela dará a luz aos filhotinhos, em um número que varia de 12 até 60 aproximadamente, dependendo da espécie, da maturidade e das vezes que ela já procriou. Você não precisa nem se preocupar com os pequeninos pois terão abrigo nas plantas. Você deve então devolver a fêmea ao aquário principal. Nesse momento alimente-a bem para recuperar as energias.

Você poderá criá-los neste aquário até que alcancem um tamanho que os pais não consigam mais comê-los, o que seria um centímetro mais ou menos. Tenha cuidado nas TPAs, pois são sensíveis, faça umas 2 vezes por semana de 15%, mais ou menos.

Segue um desenho simples de como deve ser um modelo bem básico aquário maternidade:

Áquario maternidade básico

 

A criadeira é basicamente uma caixa de vidro, plástico ou acrílico, com uma divisão central e vários furinhos. A divisão serve para separar os filhotes da fêmea e os buraquinhos para garantir a circulação de água, é um estrutura de se pendurar do lado de dentro do aquário. Explicando:


Aqui um desenho simples que mostra dois dos modelos mais básicos de criadeiras à venda (existem muitas outras):

Modelos básicos de criadeiras

 

Pessoalmente prefiro usar aquários maternidade, pois os filhotes crescem bem mais rápido e com segurança do que na criadeira. Aliás, o aquário maternidade não precisa ser necessariamente um aquário pode ser uma bacia, um garrafão de água de 20 litros ou qualquer outro recipiente que permita a colocação dos equipamentos básicos. Eu já mantive dos dois modos e afirmo novamente que a melhor opção é o aquário maternidade.

Sobre a alimentação, temos que visar primeiramente a espécie que vamos criar: basicamente são todos onívoros, mas espécies como Guppy, Agulhinha, Tralhoto, Meio-Bico, Guarú tem necessidade de uma maior parte de proteína animal. Platys, Espadas e Molinésias tem necessidade de uma maior parte de vegetais, fibras.

Para as espécies que devem receber mais proteínas, artêmia salina (náuplios) são indispensáveis para um crescimento bem acelerado, assim como micro-vermes, etc. Já para as que devem receber mais fibras rações a base de spirulina são imprescindíveis. Lembrem-se que tanto artêmias como rações de spirulina devem ser fornecidos a todas esses peixes, basta aumentar ou diminuir a quantia de acordo com a exigência de cada espécie. Criadores profissionais dizem que Lebistes alimentados com náuplios de artêmias todos os dias em pouco menos de 3 meses chegam ao tamanho adulto... viçosos e saudáveis!

Limo nas vidros e nas pedras, gema de ovo cozida e passada na peneira (em pequena quantidade), ração dos adultos bem triturada com os dedos são opções caseiras, fáceis e práticas que podem ser tomadas como complemento.

Atente também que no mercado atual existem dezenas de opções de rações especialmente desenvolvidas para alevinos de poecilídeos, que são nutricionalmente balanceadas além de já virem trituradas, como um pó. Marcas como Alcon, Maramar, Tetra, Sera e JBL podem ser usadas com tranquilidade.

Com um tempo que varia de 3 até 4 meses já é possível sexar os peixinhos, caso seja esse seu interesse. O gonopódio começa a ser formado. No caso de Guppies, as primeiras manchas de cores começam a aparecer no macho.

No caso específico de ter um aquário só de Molinésias, não é necessário separar as fêmeas prenhas, basta ter muitas plantas que mais de 75% sobreviverão. Isso se deve ao fato da Molinésia não ser uma espécie muito ávida na prática do canibalismo. Alguns inclusive ignoram os filhotes.

Boa sorte a todos com as futuras ninhadas, serão muitas!

Sobre o autor:
Mateus Camboim
Autor: Mateus Camboim
Mateus Camboim de Oliveira, natural de Porto Alegre-RS, é estudante de ciências biológicas preparando-se para ser professor. Adora escrever sobre biologia, mas principalmente ler sobre o assunto. Começou no aquarismo em 1996, quando ganhou de seu pai um pequeno Plati Ouro, a partir de então, o fascínio por esses animais só aumentou, tendo montado diversos aquários desde então mas considerando que só se tornou um “aquarista de verdade” a partir de 2005, quando passou a montar um aquário seguindo tudo o que aprendeu. Sua área de maior interesse é a fauna do aquário, vendo o aquapaisagismo e a flora como parte integrante, porém não o principal.