Asterophysus batrachus Nome científico: Asterophysus batrachus
Nome popular (BR): Bagre Bicho Papão
Nome popular (ING): Gulper catfish

 

Família: Auchenipteridae
Distribuição geográfica: América do Sul (Bacia Amazônica)
Comportamento: Agressivo, pode se alimentar de peixes até maiores que ele.
Tamanho adulto: 25 cm
pH: 5,6 a 7,0
Temperatura: 24 a 29oC
Dimorfismo sexual: Machos maduros possuem a nadadeira anal modificada para fertilização interna da fêmea.
Alimentação: Peixes, filé, ração etc
Reprodução: Sem registros.
Aquário mínimo recomendado: 200 litros
Adequado para plantado? Não.
Biótopo:  
Informações adicionais:  

Saiba mais sobre a espécie:

Asterophysus batrachus (Bagre Bicho Papão / Gulper)Imagine um daqueles monstros que criamos quando somos crianças, uma criatura terrível que devora suas vítimas e deixa apenas os ossos. Pois elas existem e algumas vivem em nosso país, o Asterophysus batrachus, chamado de Gulper Catfish pelos estrangeiros, é um deles. No Brasil ele ainda não tem um nome popular muito divulgado, porém há registros na literatura científica o chamando de Bagre Bicho Papão, um nome bem apropriado para esse peixe.

O Gulper é um peixe brasileiro, mas que também habita outros países da região amazônica, sendo bastante valorizado fora do Brasil mas ainda quase desconhecido por nós. Eles não são coloridos e nem atingem grande tamanho, cerca de 25cm, o que chama a atenção nesse peixe e o faz ser tão adorado como peixe de estimação ou pet fish são seus hábitos alimentares, ele se especializou em predar peixes de grande porte, as vezes maiores que ele.

Curiosamente, o Bagre Bicho Papão pertence a mesma família das Tatias, pequenos bagres pacíficos que vivem espalhados pela América do Sul, mas como um peixe primo das pacíficas tatias chegou a isso? Vamos analisar o ambiente onde esse peixe vive, os rios da América do Sul, talvez o lugar com maior índice de predadores de água doce do mundo. Neste ambiente, os pequenos precisam viver em águas mais rasas para terem proteção, consequentemente, nessas áreas se acumula uma enorme variedade e quantidade de peixes de tamanho parecido, que competem pelo alimento disponível ali.

Seus primos mais próximos vivem neste mesmo ambiente, disputando com todos os demais peixes os invertebrados e raramente pequenos peixes que dão bobeira e acabam sendo devorados, mas como conseguir mais alimento nesse ambiente? Alguns bagres, como o Mandubé ou Palmito, aprimoraram sua velocidade e abandonaram a forma tradicional de caça no fundo, tornando-se peixes de meia água e nado ativo. Só que isso consome muita energia e obriga o peixe a caçar em águas abertas, onde também será caçado.

Outra saída é aumentar o tamanho das presas que podem ser devoradas, assim como fez seu primo, o demônio negro (Trachycorystes trachycorystes), esse peixe possui uma boca enorme, capaz de devorar peixes quase de seu tamanho, mas é muito lento e depende da sorte e de emboscadas rápidas para conseguir alimento.

O que o Gulper fez foi algo nesse sentido, modificações fisiológicas que possibilitaram ao peixe ingerir presas enormes, foram elas:

  1. A boca aumentou muito em raio e ângulo de abertura.
  2. Os dentes foram projetados para dentro, assim qualquer movimento da presa só irá jogá-la mais ainda para o fundo de sua boca.
  3. As placas de dentes do palato foram deslocadas para frente, facilitando para o Bicho Papão engolir sua presa mais rapidamente.
  4. Um estômago extremamente elástico, capaz de receber volumes enormes de alimento.
  5. Sucos digestivos potentes para digerir volumes maciços de carne.

As adaptações acima foram feitas para a ingestão de presas grandes, mas mesmo com tudo isso ainda restam dois problemas, como caçar essas presas e o que fazer com as partes não digeríveis ou de difícil digestão, como escamas e ossos mais duros por exemplo? No caso da digestão, o problema foi resolvido de forma simples, o Gulper regurgita os restos não digeridos de suas presas. É comum ver o peixe todo inchado às vezes, mesmo não tendo comido nada, essa é a forma que ele utiliza para "limpar" seu estômago, ele engole água e depois a coloca pra fora, junto com eventuais restos de refeições anteriores.

Sua forma de caçar é das mais engenhosas e eficazes, ele fica nadando no meio do cardume de peixes de que se alimenta, por ser de tamanho próximo ao de suas presas, não é visto como predador por elas, assim ele pode se aproximar, com um nado estranho, ao estar numa posição boa, que é a frente do peixe ou ao lado dele, ele se vira rapidamente e abocanha a presa. O interessante é que o peixe a ser devorado parece levar alguns segundos para entender o que está acontecendo, parece não acreditar que está sendo devorado por outro peixe do mesmo tamanho que o seu.

Asterophysus batrachus vivendo em grupoEm aquário podemos ver esse comportamento curiosíssimo, aliás, falando em aquário, para quem pensa em ter um monstrinho desses vai precisar de um aquário de, no mínimo, 200 litros, apesar de não atingir grande tamanho, produzem muita amônia e exigem uma filtragem potente.

Ficam ótimos em aquários com algumas plantas (não confundir com um aquário plantado) e vivem muito bem em cardumes, de alguma forma eles se reconhecem e relatos de canibalismo não são comuns, mais um fato curioso sobre essa espécie, impensável esse comportamento por se tratar de um peixe tão voraz. Já com outros peixes não há essa passividade, eles podem sim ser mantidos em aquários comunitários, mas por segurança, os outros peixes devem ter, pelo menos, o dobro de seu tamanho e não ter o corpo muito fino.

Não há relatos de reprodução em cativeiro, apesar do dimorfismo sexual ser aparente em indivíduos adultos, os machos maduros possuem uma parte da nadadeira anal modificada para introduzir os espermatozóides na fêmea, já que trata-se de uma espécie de fecundação interna. Vivem bem em pH ácido, de 5,6 a 7, de início comem mais facilmente alimento vivo, com o tempo podem ser condicionados a aceitarem outro tipo de alimento como filé e até ração. Com o tempo podem se tornar dóceis e pegarem o alimento da mão do aquarista. Em aquários maiores, o Gulper pode até ser retirado, colocado em um recipiente menor para que se alimente e depois devolvido ao aquário, aparentemente o peixe parece não se importar.

Enfim, quer um petfish dos mais exóticos e interessantes do mundo? Está ai, o Bagre Bicho Papão ou Gulper catfish, um peixe que não tem a beleza das cores, mas com certeza irá surpreender a todos por seu curioso comportamento na hora de se alimentar.

Escrito por: Renato Moterani

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