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Existe uma dúvida que ronda os criadores de peixes há muito tempo. Qual a melhor ração para seus peixes? Geralmente esses criadores só tem a opção de observar o comportamento dos peixes e tentar visualizar seu desenvolvimento ou identificar possíveis problemas (mas quando isso ocorre, na maioria das vezes, já é tarde). Qual seria a melhor ração? Aquela nacional, mais barata, ou aquela importada, bem mais cara? Será que não existe uma maneira prática de tirar esta dúvida? Felizmente a resposta é sim, existe uma maneira. Este é um bom teste para quem gosta de experiências.

Estes testes abaixo podem ser feitos quando se achar necessário. Quando se quiser testar uma ração nova ou quando parecer que a ração mudou seria importante testar. Qualquer mistura de ingredientes para formar uma nova dieta pode ser testada da mesma forma. Mas é importantíssimo que os peixes recebam apenas 1 tipo de alimento (ou ração) durante o experimento. Se mais de um alimento for utilizado, os resultados serão referentes a aquela dieta complexa e não à ração em si. Estes testes comparam no mínimo duas rações, mas podem comparar quantas forem necessárias (no mínimo duas). Com o resultado na mão, pode-se saber qual a melhor ração e utilizá-la com muito mais tranqüilidade.

Um lembrete importante é que, na prática, quando formos alimentar nossos peixes devemos usar alimentos variados, pois não são conhecidas as exigências nutricionais dos peixes e sem isso, nem se quisessem, os fabricantes de ração seriam capazes de fazer a dieta perfeita.

O resultado deste experimento é importantíssimo e deve ser divulgado aos “4 cantos do mundo” para que todos conheçam os resultados. Pode parecer complicado da primeira vez que você ler este artigo, mas faça um resumo passo a passo que verá que é simples.

1. Primeiramente vamos calcular o Ganho de Peso (GP).

Ganho de peso é basicamente o quanto que o peixe ganha de peso depois de algum tempo. Pode ser calculado para apenas um peixe ou para vários peixes ao mesmo tempo, mas o resultado é mais preciso se for calculado para uma espécie de cada vez (uma espécie pode não crescer nada com determinada ração, mas outra pode crescer muito e “mascarar” o resultado) e para peixes de tamanho semelhantes (peixes pequenos crescem mais que peixes grandes). Você precisará de uma balança com precisão razoável. Quanto menor o peixe, maior a precisão requerida da balança.

Para 1 peixe:

Sempre que possível deve-se fazer estes testes com mais de 1 peixe. Com apenas um peixe corre-se um risco muito grande de ocorrer em erros, mas ainda assim o resultado é válido.  

    GP = PF – PI

Onde:   

Obs.: As unidades devem ser sempre as mesmas. Se usar quilograma (kg), usar kg em todo o cálculo. Se usar grama (g), usar g em todo o cálculo. Isto depende do tamanho do peixe.

Deve-se pesar o peixe no início do experimento e fornecer ração normalmente por um período de tempo que dê para a ração mostrar seu resultado. Este tempo pode ser mais ou menos de 1 mês.

Para mais de 1 peixe calculamos o Ganho de Peso Total (GPT):

Para isso, precisaremos calcular o Peso Inicial Médio e o Peso Final Médio dos peixes.

- Quando for possível pesar todos os peixes, o Peso Inicial Médio é calculado pesando-se cada peixe no início do experimento, somando-se todos estes pesos e dividindo-se pelo número de peixes pesados. Ex.:

Um aquário com 3 peixes Pesando-se:

Peixe 1 = 5g;

Peixe 2 = 6g;

Peixe 3 = 4g Peso Inicial Médio = (5g + 6g + 4g)/3 peixes = 5g

O Peso Final Médio é calculado da mesma maneira, mas os peixes devem ser pesados no final do experimento.

Quando o número de peixes for muito grande, o que dificilmente ocorre em aquarismo, o Peso Inicial Médio é calculado pesando-se uma amostra dos peixes no início do experimento, somando-se todos estes pesos e dividindo-se pelo número de peixes pesados. Quanto maior a amostra (quanto mais peixes forem pesados), maior a precisão do resultado.

Ex. Em um aquário com 100 peixes. Retiramos uma amostra de 3 peixes.
 
Pesando-se:

Peixe 1 = 7g;

Peixe 2 = 6g;

Peixe 3 = 5g

Obs. Só 3 peixes é uma amostra muito pequena, mas serve aqui como exemplo.

Peso Inicial Médio = (7g + 6g + 5g)/3 peixes = 6

O Peso Final Médio é calculado da mesma maneira, mas os peixes devem ser pesados no final do experimento.

Com os dados de Peso Inicial Médio e Peso Final Médio, finalmente podemos calcular o Ganho de Peso Total para o caso com mais de 1 peixe:

    GPT = PF - PI

 

Onde:


Com o resultado do Ganho de Peso, já temos um dado que pode ser analisado. Quanto maior o Ganho de Peso, medidos no mesmo intervalo de tempo, melhor tende a ser a ração. A única exceção é se a ração engordar o peixe apenas com gordura e não com massa muscular como deveria. Este caso não é interessante, pois assim como em humanos e qualquer outro animal, excesso de gordura é prejudicial. Infelizmente, somente analisando-se o teor de gordura no corpo do peixe (teor de gordura na carcaça) será possível tirar esta dúvida. Esta análise pode até ser feita, mas é mais trabalhosa.

2. Agora devemos calcular a Conversão Alimentar (CA)

A conversão alimentar reflete o quanto o peixe come e o quanto ele ganha de peso (por isso calculamos o Ganho de Peso anteriormente). Cada ração vai ter um valor de conversão alimentar para uma determinada espécie (cada espécie precisa de nutrientes diferentes e tem metabolismo diferente) e para uma determinada fase de vida (peixes menores tem menor conversão alimentar que peixes maiores) numa determinada condição ambiental (temperatura, pH, luminosidade, etc). Assim, quem for fazer estes testes é importante fornecer os dados referentes às condições do experimento: espécie, quantidade de peixes testados, tamanho inicial e final, tempo do experimento e condições do ambiente (incluindo tamanho do aquário e características da água).


Obs.1: Só relembrando, usar tudo na mesma unidade (só kg ou g).
Obs.2: Para facilitar o cálculo da quantidade de ração (R), separar a ração do experimento e pesar no início e final do teste. Por diferença (peso final - inicial) acha-se o que foi consumido pelo peixe, que é o valor de R da fórmula.

Analisando-se a fórmula podemos perceber que quanto menos o peixe come (menor numerador) e mais cresce (maior denominador), menor é a conversão alimentar e conseqüentemente, mais eficiente é a ração. Portanto, chegamos onde queríamos: Quanto menor o valor de conversão alimentar, melhor a ração.    

Comentando um pouco sobre conversão alimentar, o resultado final achado através dos cálculos acima será apenas um número e este número não possui unidade (ex: kg), pois a fórmula está dividindo dois números com a mesma unidade. Ex: 1,5. Mas a conversão alimentar é geralmente expressa como uma relação para 1 unidade Ex. 1,5:1 Isto representa que esta ração proporciona uma conversão de 1,5:1 (fala-se 1,5 para 1), ou seja, que os peixes consumirão 1,5 kg de ração para cada 1 quilo que engordarem (ou consumirão 1,5 g de ração para cada grama de peso que engordarem).

Só por curiosidade, seria possível encontrar resultados de conversão alimentar menores que 1 (ou menores que 1:1) nos experimentos? Ou seja, seria possível um peixe consumir menos que 1 quilo de ração e engordar mais de 1 quilo de peso? Parece impossível, mas a resposta á sim, é possível. Isto pode ocorrer se os peixes tiverem acesso a alimento natural (ou a outros tipos de alimentos). Com isso eles comeriam menos de 1 quilo de ração (mais comeriam uma porção de outros alimentos) e engordariam mais de 1 quilo. Lembre-se que a conversão alimentar é um valor obtido para um tipo de alimento, para uma determinada espécie, para uma determinada fase de vida e para determinadas condições ambientais.

Com o valor da conversão alimentar de cada ração e para cada espécie de peixe, será moleza escolher a melhor ração (é a que possui menor conversão alimentar). Ao invés de se calcular a conversão alimentar durante 1 mês, pode-se calcular desde que o peixe começa a consumir ração, ainda bem novinho, até a idade adulta. Assim teremos um valor de conversão alimentar calculado durante quase toda a vida do peixe. Isto não é muito bom, pois os peixes novos precisam de rações de melhor qualidade e de tamanho diferente que peixes mais velhos. Seria interessante ter um valor de conversão alimentar para a fase inicial, assim saberíamos qual a melhor ração para o crescimento, e outro valor para a fase adulta, pois saberíamos qual a melhor ração para a fase adulta dos peixes.

A seguir temos um exemplo de cálculo da conversão alimentar.

Ex: Aquário com 20 peixes com peso inicial médio de 30g consumiram 650g de ração em 1 mês e atingiram 55g de peso final médio.

 


Com um exemplo fica tudo mais simples de entender. Não tem nada de complicado.

Mas ainda existe um detalhe que pode ser acrescentado aos resultados do experimento. Para quem não está disposto a pagar mais pela melhor ração, pois GERALMENTE as rações mais caras são melhores, deve-se procurar a ração mais eficiente, ou seja, aquela que faz o peixe crescer, mas com o maior lucro do criador. Esta sim é a ração mais eficiente. Esta sim é a melhor ração. Devemos incentivar o consumo destas rações, pois os fabricantes estariam nos fornecendo o melhor crescimento a um menor custo. Não é tão importante, mesmo em aquarismo, pagar muito mais por uma ração apenas por um pouco a mais de crescimento proporcionado aos peixes. Podem ter certeza, com os cálculos abaixo estaremos com a ração mais eficiente (tanto em desempenho quanto em custo).

3. Qual a ração mais eficiente?    

Vamos direto ao exemplo que fica mais fácil entender. Supomos que temos duas rações para escolhermos, e já temos o valor da conversão alimentar para cada ração, mas uma tem o preço diferente da outra. Qual devo comprar? Qual a ração mais eficiente?
   

Ex:


Primeiramente devemos calcular quanto custa cada grama de ração (ou cada quilo) nos dois casos, já que um pote tem 10 gramas e o outro tem 15 gramas. Reparem que aparentemente a ração A é mais barata. Faremos duas regras de 3 simples.

    Ração A:
    R$ 2,50 ----- 10 gramas
        X       ----- 1 grama
    X = (1 x 2,50) / 10 = R$ 0,25


    Ração B:
    R$ 3,30 ----- 15 gramas
        Y       ----- 1 grama
    Y = (1 x 3,30) / 15 = R$ 0,22
   

Ou seja, cada 1 grama da ração A custa R$ 0,25 e cada 1 grama da ração B custa R$ 0,22. Agora sabemos que na realidade a ração B é mais barata. Se fôssemos para por aí e optar somente pelo preço, optaríamos pela ração B. Mas supomos a conversão alimentar fosse a seguinte:

    Ração A: Preço = R$ 0,25 cada 1 grama e CA = 1,5:1
    Ração B: Preço = R$ 0,22 cada 1 grama e CA = 2,0:1

Agora podemos calcular quanto custa cada grama que o peixe cresceu comendo cada tipo de ração utilizando o valor da CA, lembrando que a conversão alimentar significa a quantidade de ração consumida para crescer 1 grama.

Ração A:
    1g ração   ---- R$ 0,25
    1,5g ração ----    X

    X= R$ 0,375 / g de peixe


Ração B:
    1g ração   ---- R$ 0,22
    2,0g ração ----    Y

    Y= R$ 0,44 / g de peixe
   

Estes resultados mostram dados muito interessantes. Apesar da ração A ser mais cara (R$ 0,25 cada 1 grama), ela apresenta melhor eficiência (R$ 0,375 / g de peixe), ou seja, custa mais caro, mas o peixe cresce proporcionalmente mais com um menor custo. Também pode ser explicado da seguinte forma: apesar da ração A ser mais cara, cada 1 grama que o peixe cresce consumindo esta ração custa menos. Concluindo, a ração A é mais eficiente e ela é a melhor ração.

Este artigo mostra a importância da utilização da conversão alimentar como parâmetro para avaliação de rações ou alimentos para peixes. Agora ninguém tem a desculpa de não saber qual a melhor ração para seu peixe. Experimentem, não é complicado e o resultado é importantíssimo.

Espero que tenham achado interessante. Qualquer comentário, dúvidas ou perguntas me escrevam.

Eduardo Lopes Beerli é Zootecnista, mestre em Aqüicultura.

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Sobre o autor:
Marne Campos
Autor: Marne Campos
Marne Campos, natural de Campinas-SP, é aquarista desde 1990 quando, aos 7 anos de idade, ganhou o seu primeiro aquário e se apaixonou completamente pelo aquarismo. Bacharel em Análise de Sistemas pela PUC-CAMPINAS e técnico em Eletro-Eletrônica pela UNICAMP, criou o projeto Aquarismo Online em 1999, além outras iniciativas ligadas ao aquarismo que vieram logo em seguida, entre elas a idealização do CBAP (Concurso Brasileiro de Aquapaisagismo) onde ocupou o cargo máximo por 12 anos. Dedica-se à aquários plantados desde 1998, tendo como principal área de interesse atualmente, a manutenção de ambientes aquáticos por longos períodos.