Olá Blue...
O negócio é o seguinte... pelo que está falando, ponto branco pode até ser ictio, mas precisa ver qual o aspecto, se houver algo como um algodãozinho nestes pontos aí é fungo. Isso pode ser tratado, mas não utilize os medicamentos no aquário, ponha o Betta em um recipiente menor com 2L, pode ser até um pote de sorvete devidamente limpo. Acho importante vc visitar a seção Doenças e Tratamentos...
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Ictio
Ichthyophthirius multifiliis é o nome científico do parasita causador do ictio (nome popular do mesmo). É um protozoário ciliado visível a olho nu em seu estágio mais avançado, medindo pouco mais de 1mm. Por esse motivo, é chamado também de doença dos pontos brancos, que afeta a maioria dos peixes de água doce, no mundo todo. De desenvolvimento muito rápido, é capaz de contaminar todos os peixes do aquário em um intervalo de tempo muito curto. Por isso o índice de mortalidade pode chegar a 100%, caso não seja combatido no início. Provavelmente é a doença de aquário mais popular pelo mundo, devido à essas características.
O que hoje é mais aceito sobre a ação do parasita no peixe é que o I. multifiliis penetra na camada da epiderme do peixe, provocando excesso de muco nas regiões onde o parasita está instalado. Não apenas na pele, mas o parasita também pode instalar-se em nadadeiras e brânquias. Em contato com o parasita, as células do corpo do peixe reagem, ‘engrossando’ sua membrana plasmática, como forma de proteção. No entanto, essa reação dificulta a troca gasosa pela célula, havendo queda na quantidade de oxigênio na célula. O aumento no tamanho das células das brânquias, dificulta a passagem e absorção de oxigênio, e a própria existência de parasitas nas brânquias, também contribui para esse déficit de oxigênio. As lamelas (‘dobras’ das brânquias, que contém os capilares por onde passa o sangue que ‘absorve’ o oxigênio) deformam-se diminuindo a quantidade de oxigênio aproveitado. Com a deformação das lamelas, as camadas epiteliais das brânquias podem se separar, havendo perda de fluidos e nutrientes, desregulando o equilíbrio osmótico.
Por esse motivo, o peixe passa a apresentar a respiração ofegante. Toda essa situação, leva o peixe a um quadro de stress. Esse então pára de se alimentar, fica apático, etc. Alguns peixes podem mudar a coloração em reação a tudo isso. Cada peixe pode reagir de maneira diferente, e por isso, os sintomas serem variados. Mas a identificação do ictio é bem fácil, devido à fácil percepção do parasita no corpo do peixe (é como se o peixe fosse passado sobre sal ou farinha. Ficam muitos pontos brancos pelo corpo).
Em seguida, uma segunda infecção, bacteriana ou fúngica, pode ocorrer decorrente à baixa do sistema imunológico do peixe.
Compreender seu ciclo de vida, é essencial para entender como eliminar o parasita. O I. multifiliis apresenta-se em 3 formas, durante seu ciclo de vida. Vou começar pelo estágio mais conhecido, que é quando ele é visível por todos, na pele do peixe. Nesse estágio, chamamos-no de Trophont. Os Trophonts possuem forma esférica (caracteriza os pontos brancos) e variam de tamanho, conforme seu desenvolvimento. Possuem cílios que fixam-no ao peixe, ‘alimentando-se’ dele. Protegido pela membrana mucosa do peixe, e às vezes pela camada epitelial, são poucos os medicamentos que conseguem agir contra os Trophonts (nesse caso, o medicamento teria que agir de dentro para fora – ação sistêmica). Quando o Trophont chega a seu estágio mais desenvolvido, seu núcleo (núcleo celular) encontra-se em forma de ‘C’ (visto ao microscópio). Nessa fase, os Trophonts deixam o peixe e se abrigam no fundo do aquário, no substrato ou em qualquer outro lugar. Forma-se a sua volta, uma espessa membrana protéica (gelatinosa) que o protege.
Nesse estágio, denominamos no como Tomont. Os Tomonts também são esféricos, mas não apresentam os cílios, e portanto, não conseguem se locomover. Seu principal objetivo nesse estágio é a reprodução. Eles dividem-se inúmeras vezes, produzindo (cada Tomont) milhares de ‘novos’ parasitas, que ficam protegidos sob a membrana protéica. Essa membrana impede que os medicamentos atuem no parasita, permitindo seu total desenvolvimento.
Quando se libertam da membrana, os parasitas adquirem forma alongada e novamente os cílios, que permitem que eles nadem até encontrar seu hospedeiro (o peixe, embora existam casos de I. multifillis que contaminaram anfíbios). A esse estágio, chamamos-no de Theront. Os Theronts possuem até 48 horas para encontrar um hospedeiro, do contrário, morrem. Por isso, o I. multifillis é um parasita obrigatório. Esse é o estágio mais vulnerável do parasita, e é no momento em que os Theronts se libertam da membrana protéica, que os medicamentos conseguem efetivamente combater o parasita. Se o Theront conseguir chegar no peixe, irá penetrar no epitélio do peixe, através de uma glândula e dos cílios. A partir daí, torna-se um Trophont e nosso ciclo se completa.
O intervalo de tempo de cada estágio, varia de acordo com a temperatura. Na maioria dos aquários, onde a temperatura é mantida em torno de 26ºC, o ciclo se completa entre 4 e 7 dias. Mas pode chegar a mais de 2 semanas em alguns casos. Em lagos e tanques, onde a temperatura costuma ser bem mais baixa, o ciclo pode levar até 1 mês para se completar. Devido a essa influencia da temperatura no ciclo de vida do parasita, é importante mantê-la constante durante o tratamento.
Como foi possível perceber, existe um momento crucial para o tratamento. O estágio em que o parasita torna-se livre. É nesse estágio que devemos tratar o peixe, para que o ciclo não se complete (alguns aquaristas dizem que em certos casos (mais avançados), o parasita pode pular os estágios de Tomont e Theront, dividindo-se no interior do próprio peixe, dificultando muito o tratamento).
No entanto, há um outro ponto fraco no ciclo desse parasita: impedindo a formação da membrana protéica (Tomont), o parasita ficaria vulnerável à ação de qualquer medicamento. Outro modo de eliminar o parasita, é impedindo sua reprodução. Em ambos os casos, elevar a temperatura do aquário para 30ºC mostra-se eficaz.
Para eliminar o parasita, são utilizados medicamentos a base de sulfato de cobre (CuSO4), permanganato de potássio (KmNO4). No entanto, esses também são tóxicos aos peixes e por isso deve se utiliza-los com cuidado. O sulfato de cobre principalmente, que é tóxico até para os humanos. O permanganato de potássio torna-se tóxico conforme o consumo de matéria orgânica. Por isso, fique atento, pois a mudança na cor (de vermelho/vinho para marrom/alaranjado) indica quando se torna tóxico. A quantidade mínima eficaz contra o ictio é de 2ppm.
No entanto, vou dar mas atenção a um produto abundante, barato, atóxico e muito eficaz no tratamento de ictio. O sal grosso. Quando dissolvido na água, elimina a forma livre do parasita através da diferença de pressão osmótica que causa (explicando grosso modo: a quantidade de sais dissolvidos aumenta, e a ‘água’ do interior do parasita sai do corpo, em direção à água, a fim de diluir o sal. Assim, retorna-se o equilíbrio anterior entre o corpo e o meio em que está imerso - a água. Como a quantidade de ‘água’ do parasita é muito pouca para diluir o sal de todo o aquário, esse acaba morrendo ‘desidratado’. É o que ocorre se observa nos dedos de nossas mãos, quando ficamos muito tempo no mar ou na piscina.). Como praticamente não afeta o peixe, é o tratamento mais indicado. A única observação é quanto à tolerância de sal por parte do peixe.
Para finalizar, gostaria de enfatizar a idéia da prevenção. O I. multifiliis é um parasita que se reproduz muito rápido e que pode causar grandes prejuízos à saúde animal. Como não sobrevive e nem se locomove no ar, a sua introdução no aquário é obrigatoriamente através de peixes, plantas ou equipamentos contaminados. Ou seja, a sua introdução ao aquário principal, é facilmente evitada através da quarentena.
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Daniel Eiti Yamasaki
Espero que o peixe sobreviva! Mas se não vingar, não se sinta culpada, pois ele já estava doente qdo vc o comprou.
Abraço.