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Apesar do aquarismo plantado no Brasil ter evoluído muito no sentido técnico, tecnológico e principalmente artístico, muitos mitos antigos parecem persistir em perdurar entre os aquaristas. Muitos desses mitos custam o fracasso dos iniciantes e invariavelmente levam à insatisfação no hobby que, por sua vez, fortalecem ainda mais esses malditos mitos.

Molécula de fosfato com destaque para o fósforo (P).Certamente o maior mito de todos no aquarismo plantado é o fósforo (ou fosfato) no papel de vilão como o grande e principal causador dos surtos de algas. Isso já fora exaustivamente discutido durante muitos anos e eu, digo eu mesmo, achei que essa questão já havia sido esclarecida para a maioria dos aquaristas, pelo menos os mais experientes... mas estava enganado! Ainda há muita gente, muito mais do que eu imaginava, que ainda acredita nesse grande absurdo e isso é algo que realmente me deixa muito irritado, pois o nosso hobby não deveria mais estar sendo perturbado por esse barulho, esse retrocesso, esse atraso de vida! Precisamos liquidar esse equívoco de uma vez por todas e vou dar aqui minha parcela de contribuição rapidamente. Portanto, vamos partir de dois fundamentos técnicos essenciais que todo aquarista tem a obrigação de saber:

• O fósforo (P), como todos devem sabem, é um dos cinco macronutrientes das plantas sem o qual elas sofrem severos distúrbios de crescimento e definham até a morte, ponto final. Isso é indiscutível. Sem fósforo não há condições saudáveis para as plantas se desenvolverem, isso é uma ordem imutável.

• Nos ecossistemas aquáticos, a saúde das plantas são a contrapartida da proliferação contínua das algas, ponto final. Quem não acredita nisso, por favor, passe a acreditar. Plantas e algas são organismos concorrentes no ecossistema, portanto, se um sofre, o outro prospera. As algas, como organismos fisiologicamente inferiores e menos exigentes, se aproveitam de determinadas condições de desvantagem para as plantas para crescerem, são organismos oportunistas.

Folha de planta coberta por algas petecasA partir desses dois preceitos, podemos tirar algumas conclusões que podem ser comprovadas na prática. 

Primeiro: como podemos vencer a competição contra as algas removendo o fósforo, um dos principais alimentos das plantas? É como tentar vencer uma guerra de trincheira com uma bomba atômica, você mata o inimigo e também seu próprio exército. É lógico que funciona! As algas desaparecem! E junto com elas a saúde das suas plantas que vão apresentar vários sinais de desnutrição importantes. Aquaristas inexperientes que não sabem reconhecer esses sinais ficam satisfeitos ao verem o aquário livre das algas e mal sabem que suas plantas não conseguem crescer ou crescem muito mal. 

Planta livre de algas, realizando fotossíntese visivelmenteSegundo: a guerra não foi vencida, foi apenas estagnada. Logo que o menor traço de fósforo surgir, as algas explodem novamente e aí temos aquaristas que se ocupam mais em combater as algas do que cuidar das suas plantas e de seu aquário. É por isso que vemos os fóruns abarrotados de tópicos sobre controle de algas e quase nenhum sobre nutrição de plantas. Só se fala nisso! Isso não é aquarismo, é uma batalha inglóra! Na prática é impossível, repito, É IMPOSSÍVEL, remover o fósforo de um ecossistema vivo. Resinas??? Pregos no filtro??? TPAs de 457%??? Já vi de tudo e os aquários continuam andando para trás. 

Se tratando de algas, posso assegura-lhes que 70% das causas estão no suprimento deficiente de CO2. Acreditem, a maioria dos aquaristas não sabem medir o CO2 e praticamente todos usam o drop-checker como o principal indicador sem ter a menor ideia de como usá-lo. Esqueçam o drop-checker, isso é para aquaristas muito, muito experientes. Eu mesmo não uso. É muito mais bonito do que eficiente. Os outros 30% das causas das algas são divididos entre má nutrição das plantas e operação ineficiente dos biofiltros, o que causa o surgimento de amônia, um verdadeiro estopim para as algas. 


Problemas com algas e saúde das plantas são as duas faces da mesma moeda. Estude a nutrição das suas plantas e aprenda a observar suas necessidades e as algas começam a sumir como mágica. Quantas vezes não resolvi problemas com algas nos meus aquários aplicando MAIS FÓSFORO! Mas para isso é preciso estudar uma série de mecanismos fisiológicos que veem antes dos nutrientes e o principal é acertar a medida certa entre Luz e CO2. Esse é 50% do segredo da coisa, entender que a relação luz, carbono e nutrientes significa energia, ritmo e demanda: a luz como energia ditará um ritmo metabólico por carbono que, por sua vez, demandará recursos na forma de nutrientes. Entenda esse conceito primário, a culpa não é do fósforo.

Sobre o autor:
Eduardo Fonseca Jr.
Autor: Eduardo Fonseca Jr.
Eduardo Fonseca Jr, nasceu em 1984 na cidade de Americana, interior do Estado de São Paulo, residindo na capital do Estado há mais de 10 anos. Formado em psicologia atua como engenheiro químico em uma empresa japonesa. O aquarista veio de uma família com tradição em aquários e orquídeas e desde os 6 anos de idade nunca deixou de ter um aquário e pelo menos uma orquídea em casa. Teve seus primeiros contatos com o aquarismo plantado em 2006, mas foi a partir de 2014 que começou a se dedicar mais intensamente à essa vertente do aquarismo, principalmente no que se refere ao aquapaisagismo.