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As plantas flutuantes são ótimas aliadas do aquarista na manutenção de seus aquários, podendo ter sua presença considerada quase obrigatória em diversas montagens. Bonitas e funcionais, servem como complemento na decoração, tornando o ambiente muito mais natural ao mesmo tempo que garante a retirada de boa parte da matéria orgânica presente na água. Nesse texto abordaremos um pouco sobre essas plantas multifuncionais, especialmente as de pequeno porte, ideais para pequenos tanques.


Quando falamos sobre plantas flutuantes, geralmente os primeiros a serem citados são os Aguapés (macrófitas do gênero Eichhornia, também conhecidas como Jacinto ou Gigogas) e as Alfaces-D'Água (Pistia stratiotes, também conhecida como Repolho-D'Água), ambas plantas muito populares e comuns em qualquer curso d'água ou mesmo lagos ornamentais. Sua popularidade se deve às inúmeras atribuições positivas e já comprovadas: decoram com naturalidade qualquer ambiente, fornecem refúgio aos peixes, criam zonas de sombreamento e são capazes de retirar compostos químicos tóxicos da água (nitrogênio e fósforo, por exemplo), além de acumular material orgânico sólido em suas raízes, aproveitado em seu metabolismo. Tanto é que são utilizadas no tratamento da água do sistema de esgoto, em determinadas regiões.

Porém, essas plantas apesar de muito funcionais são grandes, inapropriadas para a maioria dos tanques ornamentais domésticos. Ultrapassando facilmente os 30 cm, podem destruir o layout do aquário mais bagunçado até, tanto a parte fora d'água como as raízes, submersas. Todavia existem outras inúmeras espécies de macrófitas flutuantes de pequeno porte, igualmente eficientes e perfeitamente adaptáveis a esses pequeninos sistemas.

As plantas flutuantes mais comuns à disposição nas lojas costumam ser dos gêneros WolffiaLemnaAzollaSpirodelaSalviniaPhyllanthusLimnobium. A ordem é de menor porte até a de maior, consecutivamente.

Wolffia é o gênero de menor tamanho, com folhas que não ultrapassam 1 milímetro, tanto em comprimento como em altura. Realmente é minúscula, com formato ovalado e crescimento rápido, não possui raízes. Proteica, serve de alimento para inúmeras espécies de peixes ornamentais e deve ser monitorada, pois espalha-se muito rápido. Não é uma planta muito exigente em relação a luz, sendo que uma iluminação média já é suficiente.

Lemna é outro gênero de pequeno porte, mas dessa vez bem visível. Atingindo até 3 milímetros, essa planta é composta de 2 à 3 folhas ovaladas unidas, com uma raiz que pode crescer uns 2,5 cm. Também cresce rapidamente e toma conta da superfície se não for controlada. Serve como alimento para diversas espécies de peixes e refúgio para a microfauna. Não é uma planta muito exigente em relação a luz, sendo que uma iluminação média já é suficiente.

 

Lemna minor

Lemna minor no centro da imagem, vista de cima.

 

Lemna minor

Raiz de L minor, no centro e em destaque. Costumam apresentar usas pontas curvadas.

 

Azolla é uma das mais peculiares plantas de superfície no que diz respeito ao seu formato. Podendo Atingir até 3 cm aproximadamente, forma pequeninas ramificações retas, em torno de 3 à 15 "braços" compostos por folhas triangulares e sobrepostas, dando uma aparência escamosa à planta. Possui uma raiz com 1 à 2 cm de comprimento, exige um pouco mais de claridade e se prolifera muito rapidamente, podendo assumir uma posição de praga se não for controlada. Não costuma ser atacada por peixes. Possui o curioso fato de se amontoar uma sobre a outra quando não tiver mais espaço para reproduzir-se horizontalmente.

 

Azolla caroliniana

Azolla caroliniana na imagem.

 

Azolla caroliniana

Percebe-se que na falta de espaço, ela começa a crescer umas sobre a outras.



Spirodela é a mais discreta e simples no que diz respeito ao formato e a cor. Com folhas que variam de 0,5 até 1 cm dependendo da espécie, possuem folhas arredondadas e verde claro, algumas vezes com tons avermelhados. Sempre em par, trio e às vezes quarteto, essa planta nãos e espalha tão rapidamente quanto as outras. Delicada, pode partir-se ao menor toque mais forte. Com diversas raízes de até 3 cm, costuma exigir uma iluminação média e serve de alimento a diversos animais aquáticos.

 

Spirodela sp.

Uma planta bonita mas frágil ao toque.



Salvinia é o gênero com mais espécies conhecidas no aquarismo. Não é uma planta de grande porte, suas folhas com pelos capazes de repelir água atingem até 3,5 cm dependendo da espécie, mas os ramos dos quais são originárias podem apresentar comprimento considerável, de até 15 cm (varia conforme a intensidade luminosa: luz mais forte planta mais compactada, luz mais fraca planta estiolada). Necessitam de uma iluminação mais forte e não costumam ser molestadas por peixes, mas sim por caramujos. Suas raízes podem, atingir até 10 cm (depende da espécie), capazes de agregar material sólido e abrigar microfauna. É uma planta de propagação rápida e constante.

As espécies mais comuns são S. natansS. auriculataS. cucullataS. minima. A menor é a Salvinia minima.

 

Salvinia natans

Salvinia natans cultivada ao ar livre e em solo muito adubado.

 

Salvinia natans

Raízes espessas, compridas e castanhas, do exemplar cultivado ao ar livre.

 

Salvinia natans

Salvinia já adaptada às condições de luz e nutrição de um aquário.



Phyllanthus, mesmo sendo citada como comum, não é muito recorrente nos aquários brasileiros, apesar de ser uma planta nativa. O que mais chama a atenção é a coloração muito avermelhada que pode desenvolver quando exposta a iluminação forte. Com folhas de até 2 cm e de aparência aveludada (devido a uma película que serve para repelir água), são um pouco frágeis ao toque e raramente são atacadas por animais. Com raízes também avermelhadas e em forma de tufos servindo de abrigo a microfauna, de até 3 cm é uma planta exigente em relação a iluminação e é recomendável a adição de Ferro na água. Possui crescimento lento a moderado.

 

Phyllanthus fluitans

Phyllanthus fluitans em ambiente externo.



Limnobium é de todas citadas a que possui folhas maiores. Com até 10 cm de comprimento, possui folhas verdes e esféricas. Com raízes que quando plenamente desenvolvidas atingem até 10 cm de comprimento. Possui a peculiaridade de lançar talos e folhas acima da lâmina d'água, ficando semelhante a uma anúbia, além de fixar suas raízes no substrato (se ele estiver ao seu alcance), crescendo como uma legítima Vitória Régia. De crescimento médio e exigência de iluminação não muito forte, é uma planta de destaque que chama a atenção pelo seu porte diante das outras. Raramente é devorada por peixes, mas suas raízes servem de esconderijo de alevinos e de microfauna.

 

Limnobium variegatum

Limnobium variegatum no centro da imagem.

 

Limnobium variegatum

Ao fundo um estolho com raízes ainda não plenamente desenvolvidas.



De uma forma geral, algumas considerações podem ser atribuídas a todas essas espécies: 

- São pequenas portanto adequadas a aquários pequenos, comuns, temáticos ou plantados, 
- O crescimento é sempre médio à rápido, dificilmente encontrará uma planta flutuante de crescimento/propagação lentos, 
- Multiplicam-se por estolhos e de forma mediana ou rápida, sendo capazes de formar verdadeiros carpetes de superfície, 
- São capazes de absorver uma série de compostos químicos nocivos como nitrito, nitrogênio, fosfato, chumbo, cadmio e cromo por exemplo, por isso são especialmente indicados para aquários plantados, evitando surtos de algas, 
- Servem de abrigo ou para alevinos de peixes como para uma vasta microfauna (invertebrados por exemplo e demais invertebrados),
- São capazes de sombrear aquários para peixes que não gostem de luz muito forte como Neons Cardinais e Acarás Disco ou para plantas que preferem luz moderada como Cryptocorynes, Anúbias, musgos e Microsorum.
- É fácil obter mudas mudas.

O que mais se destaca sem dúvida é o crescimento. Até as que são caracterizadas como plantas que crescem não tão rápido, o desenvolvimento sempre é espantoso. Veja abaixo o registro do crescimento de várias destas espécies juntas, com uma fotografia por semana, e compare:

 

Desenvolvimento - foto 1

Fotografia antes de retirar o excesso de plantas.

 

Desenvolvimento - foto 2

No mesmo dia, deixei apenas alguns poucos exemplares de cada espécie.

 

Desenvolvimento - foto 3

Aquário após 1 semana após a retirada do excesso de plantas.

 

Desenvolvimento - foto 4

Aquário após 2 semanas após a retirada do excesso de plantas.

 

Desenvolvimento - foto 5

Aquário após 3 semanas após a retirada do excesso de plantas.



Observando isso notamos que o único cuidado importante que devemos ter com essas plantas é em relação ao seu crescimento e propagação. Deixar a manutenção para semana que vem pode significar encontrar um tanque com um belo "gramado" verde na superfície, sem ver uma gota d'água abaixo. Por isso sempre retire o excesso que julgar necessário, sem peso na consciência pois elas multiplicam-se muito rápido.

Não jogue as plantas que retirar no vaso ou em qualquer curso d'água! Elas podem chegar vivas ao esgoto e após a algum córrego por exemplo, adquirindo comportamento invasor e causando possíveis desequilíbrios ambientais. Sempre descarte-as em vasos de plantas ou na terra do jardim, pois servirão como adubo após se decomporem.

Cultive algumas planta flutuantes, são tão interessantes quanto as submersas e igualmente funcionais! Seja pela decoração, seja para abrigar, seja para consumir compostos químicos e material orgânico, elas serão sempre uma ótima escolha.

 

Sobre o autor:
Mateus Camboim
Autor: Mateus Camboim
Mateus Camboim de Oliveira, natural de Porto Alegre-RS, é estudante de ciências biológicas preparando-se para ser professor. Adora escrever sobre biologia, mas principalmente ler sobre o assunto. Começou no aquarismo em 1996, quando ganhou de seu pai um pequeno Plati Ouro, a partir de então, o fascínio por esses animais só aumentou, tendo montado diversos aquários desde então mas considerando que só se tornou um “aquarista de verdade” a partir de 2005, quando passou a montar um aquário seguindo tudo o que aprendeu. Sua área de maior interesse é a fauna do aquário, vendo o aquapaisagismo e a flora como parte integrante, porém não o principal.