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Ignorar a qualidade da ração oferecida aos peixes é uma falta grave cometida por aquaristas que, diga-se de passagem, são em sua maioria iniciantes no hobby. Mas não se sintam constrangidos com esta afirmação! Trata-se apenas de uma estatística do senso comum.

É que quando começamos não conseguimos reter informações uniformemente, pensa-se sempre em aspectos isolados, esquecendo-se da conexão de todos os aspectos com o ecossistema almejado. No começo nos perdemos com o procedimento correto de filtragem, depois com o nome das plantas, depois ainda com os testes de parâmetros da água, mas nunca pensamos em como isso tudo junto precisa estar perfeitamente harmônico.

E para este ato de "pensar como um todo" dou o nome de "inteligência aquarística". Pode parecer estranho de começo, mas quando começamos a conectar todos os fatores e suas influências diretas ou indiretas perante o sistema, desenvolvemos uma inteligência capaz de por em prática o resultado desse pensamento. É quando o aquário finalmente se estabiliza e coincidentemente muitos produtos comprados são jogados fora, porque por falta de conhecimento adquiriu-se, mas na verdade são ineficazes ou até mesmo maléficos.

Aqui começo a falar sobre o tema, pois um dos produtos maléficos que devem ser jogados fora assim que é desenvolvida a "inteligência aquarística" é a ração de qualidade precária e a de quantidade inapropriada. Aproveito para comentar sobre a distribuição inadequada dos alimentos.

Vamos por tópicos.

 

1- Qualidade

Uma ração de qualidade deve ser a mais fresquinha e bem acondicionada possível, com poucos meses desde a sua data de fabricação.
Além disso, necessária é a observação quanto à composição da ração, quanto mais natural melhor. Evite excesso de corantes, conservantes e, por outro lado, compre sempre a com ingredientes melhores ou que tenha uma porção de nutrientes maior.

Existem rações no mercado com uma taxa de nutrientes baixíssima e acondicionamento de produto irregular, quiçá seja a mais "em conta" do mercado e também a mais comprada, porque muitos clientes não têm conhecimento do que estão fazendo. O barato sai bem caro, seus peixes terão uma qualidade/expectativa de vida menor por desenvolverem um organismo deficiente, metabolismo desregulado e, consequentemente, estarão "abertas as portas" para todas as doenças, fruto do insuficiente sistema imunológico.

Assim, meu conselho é que deva-se procurar rações mais completas, com todos os nutrientes advindos de alimentos naturais, sejam vivos, sejam vegetais, sejam vitaminas. Rações de qualidade oferecem tudo isto num só potinho, por um preço deveras mais salgado, mas que compensará na consciência tranquila quanto à qualidade de vida oferecida à fauna e à dor de cabeça em ter que remediar depois o problema.

Outro fator importante é não manusear a ração diretamente no pote com as mãos, procurando sempre despejar uma quantidade na tampa do recipiente e daí despejar a quantidade correta no aquário. É que nossas mãos, assim como pinças e outros aparatos não esterilizados, contêm milhões de microorganismos nocivos que entrarão e se proliferarão no pote da ração. Atenção a este cuidado para a melhor conservação do produto.

Manuseio da ração

E ainda, finalizo este tópico comentando a importância da variação na alimentação. Ninguém gosta de comer a mesma coisa por dias e dias, meses e meses, assim também não os peixes. Procure comprar do menor pote - novamente: em relação a quantidade/consumo de peixes que você cria - pelo menos duas rações diferentes e de boa qualidade. Sempre tem uma básica e uma especial, seja com spirulina ou com nutrientes de casca de árvore, com tubifex, com artêmia, com mais vegetais, com mais farelos, etc. O fato é que levando para casa duas rações com nutrientes diferentes você dará ao peixe mais opções de nutrientes e claro, um pouco mais de felicidade também. Aqui, como tenho tempo, todo dia é um cardápio diferente e nos fins de semana dou os alimentos especiais, que são os vivos ou os que precisam ser oferecidos esporadicamente, como o tubifex.
Com menos tempo disponível, pode-se adotar a dieta do "dia sim dia não" e do fim de semana. Você adapta a alimentação ao tempo que possui.

 

2 - Quantidade

Ração boa é aquela que oferece o melhor em menos produto e esta é uma premissa que todos deviam ter em mente, assim como dizem que "os melhores perfumes estão nos menores frascos". Não porque a ração mais cara não tenha a mesma quantidade da mais barata, mas sim, por dois motivos:
a) Se ela é mais completa oferece-se menos, mas esse assunto falarei no próximo tópico e;
b) Potes menores de ração, além de mais baratos, oferecem mais segurança aos peixes. Eu explico: muitas bactérias se formam a partir da condição inapropriada dos alimentos, seja por descongelamento e congelamento, resfriação e requentação, umidade, manuseio e até mesmo pelo tempo.

Tamanho da embalagem

Um pote de ração enorme na promoção pode ser chamativo aos olhos e ao bolso, mas lembre-se: você não tem um lago cheio de carpas para consumir toda esta ração em pouco tempo. Talvez esta ração dure anos dentro do armário, se levar em conta a quantidade de peixes que você cria e a quantidade de comida que consomem (porque às vezes poucos peixes gigantes comem muito mais que muitos peixes pequenos). Então afaste-se desta tentação e escolha o menor pote. Assim a comida será consumida no menor tempo possível, o que ajuda a bactérias e fungos não conseguirem se fixar a tempo, no ato do "abre e fecha" diário, conservação em local escuro e úmido e pouco manuseio das partículas de comida no fundo do pote, local maravilhoso para uma cultura de bactérias.

Como citei, o resfriamento e requentamento de comidas vivas também são prejudiciais, a não ser que seja feito um choque térmico. É que é justamente aí que as bactérias adormecidas se proliferam e quando novamente resfriadas "adormecem" e quando finalmente postas para os peixes, se proliferam de forma a infestar o aquário de bactérias felizes e prontas para atacarem o organismo de toda a fauna. O descongelamento, idem. Evite dar, por exemplo, artêmia congelada que você comprou mas esqueceu no carro e ela descongelou, mas que você colocou no congelador novamente e acha que está tudo bem. Não, não está. Assim como não se deve fazer isso com qualquer alimento para consumo humano, também não pode fazer com a alimentação da fauna do seu aquário, pelo mesmo motivo já comentado: proliferação exacerbada de bactérias.

 

3 - Distribuição

Na hora de alimentar meus peixes, penso que são humanos em escala menor. Parece loucura, de novo, mas pense cá comigo: uma "bicada" na ração para um peixe corresponde mais ou menos a um sanduíche. Calma, depois de rir entenda que o ser humano memoriza as coisas muito fácil se associadas a coisas idiotas. O que você lembra mais: a frase naquele livro difícil dos estudos ou a frase na revista Caras (ou qualquer outra revista de fofoca que você lê por alguns segundos na fila do supermercado ou sala de espera)? A frase da revista, não é? Então associe assim, cada bicada = um sanduíche. Assim, alimento os meus peixes com dois sanduíches três vezes ao dia e no fim do dia eles não sentirão fome e seus corpinhos estarão satisfeitos.

Se você come dez sanduíches uma vez só ao dia, no fim dele você estará morrendo de fome, ficará com dor de cabeça e até pode perder os sentidos. Aposto também nisso quanto aos meus peixes, por isso alimento três vezes ao dia em pouca quantidade.

Não adianta dez sanduíches a cada refeição. A não ser que você seja um dragão, não conseguirá comer isso tudo e deixará as sobras que com o tempo apodrecerão. É igual no aquário: a comida se fixa no substrato, seja lá qual for, depreciando a qualidade da água e de vida dos peixes. É como você ter que conviver num quarto fechado com um monte de sanduíches putrefados ao seu redor. Um terror.

Portanto, pense bem na quantidade de alimentos ofertados ao longo do dia e principalmente ao longo dos dias. O acúmulo é o pior inimigo do aquário e qualquer um com "inteligência aquarística" sabe muito bem disso. Lembre-se que a comida entra e sai do peixe, portanto, mesmo que ele tenha comido, ele não tem saneamento básico. Precisamos fazer sifonagem e TPA's constantes para satisfazê-los e, consequentemente, satisfazermo-nos.

Em resumo, evite alimentos mal acondicionados, em potes enormes, de validade curta e de procedência duvidosa. Crie você mesmo alimentos vivos. Mesmo com pouco tempo disponível para o hobby, existem alimentos que exigem pouquíssimos cuidados. Pesquise, assim evitar-se-á muita dor de cabeça com doenças e mortes "inexplicáveis".
Aproveito para comentar um dado: a maioria das doenças apontadas por novos hobbystas são justamente fruto da péssima qualidade/quantidade de alimento ofertado e conexão com o sistema como um todo, por não se ter formado ainda a "inteligência aquarística".

 

Ficou com dúvidas? Então acese: A importância da qualidade da ração para peixes.

Sobre o autor:
Autor: Eduardo Gerhardt