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Categoria: AQUARISMO DOCE - O BÁSICO
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Muitos aquaristas não gostam de colocar plantas naturais em seus tanques, e os motivos (ou desculpas) principais são:

a) Simples negligência, por não acharem isso importante;
b) Pressa em colocar os peixes no aquário recém montado;
c) Ignorância, por não conhecerem a biologia dos aquários, nem entenderem nada de plantas vivas, fertilização do substrato e da água, etc.; 
d) Desistência: após tentativas, as plantas sempre definharam e morreram, criando algas, os peixes do aquário comendo tudo, etc.
e) Escolha pessoal, considerando o biótopo do tanque e as espécies de peixes escolhidas para criar. 
f) Para poupar-se de trabalho e de mais gastos com plantas ornamentais e substratos férteis, porquanto isso nem sempre é barato;
g) Não ter onde comprar plantas vivas, pois as lojas próximas não oferecem tal artigo com qualidade, etc. (Se bem que hoje em dia, é possível pedir materiais de aquarismo, incluindo plantas naturais em excelente estado, pela internet, em sites muito confiáveis e eficientes).

Porém a pergunta em pauta é a seguinte:

“É possível ter um aquário com água e peixes saudáveis sem recorrer ao uso de plantas naturais?”

Aquário somente com plantas artificiais.

A resposta, para muita gente, é positiva, e na internet há defensores dessa linha, que na montagem deseus aquários recorrem apenas à água, pedras, mídias, ornamentos, e quando muito, ao uso de plantas de plástico. De fato, tais materiais podem ornamentar bem um ambiente, e as lojas de aquário oferecem vários tipos de plantas artificiais e ornamentos, em variados modelos e preços. Outro argumento de quem não recorre a plantas vivas está na alegação de que elas “pouco influenciam” na vida do sistema, sendo apenas uma questão “de charme e estética” ao ambiente.

Bem, não discutirei aqui os importantes papéis das plantas vivas em nossos tanques, pois isso já tem sido muito bem explicado em outros locais, estando mais que provado que a presença de flora traz muitos benefícios ao aquário. 

Um dos grandes objetivos do aquarismo, além do impacto paisagístico-ornamental da atividade, está em alcançar o equilíbrio biológico do sistema onde é feita a criação de peixes e outros seres aquáticos. É isso que garante que esses seres se desenvolvam da melhor forma possível, permanecendo adequadamente condicionados e mantidos. A título de comparação, voltando à pergunta acima, sugiro duas questões:

“É possível um bairro ou mesmo uma cidade sem arborização?”

“Podemos viver sem alimentação de vegetais frescos, frutas e legumes?”

Claro que sim. Mas certamente, nesses casos, a qualidade de vida estará bastante prejudicada. É isso mais ou menos o que acontece no aquário sem plantas naturais. Além do mais, ninguém de bom senso gostaria de visitar um jardim todo de plástico, não é mesmo? Atualmente, a presença de parques e reservas verdes em certos bairros e localidades tem valorizado muitos imóveis em nossas cidades.

Um dos grandes aquaristas franceses, Henri Favré, defende que plantas vivas são imprescindíveis para o bom andamento do aquário. Primeiro, porque segundo ele, um aquário sem plantas perde cerca de 50% de chance de se estabilizar biologicamente (El Acuario, 1971, p.144). Aqui, o equilíbrio sendo precário, o aquário necessitará constantemente da intervenção do criador, com uso de químicos para controlar os parâmetros da água: seja porque o pH e o DH não estabilizam, a amônia e nitritos também não caem, há pouco oxigênio na água, os peixes estão mal, e assim por diante. Para Favré (op. cit., p.77), “as necessidades das plantas correspondem às necessidades dos peixes”, ocorrendo uma troca benéfica entre os seres e o meio.

Aquário baseado em biótopo de igarapé amazônico.Em um aquário bem plantado, de excelente água, totalmente ciclado e aclimatado, dificilmente ocorrerão problemas graves. As plantas não servem apenas para a troca de gases (oxigênio e gás carbônico) na água, mas também elas se nutrem dos dejetos dos peixes, ajudando a manter a qualidade da água. O desequilíbrio biológico leva à recorrência de algas indesejadas, como as negras, as azuis, as filamentosas e outras, fora o perigo da água degenerar ou ficar verde. Claro, há como reproduzir em aquário diversos biótopos de peixes onde a ausência de plantas seja uma marca, de modo muito bem sucedido: aquários de água salobra, para Jordanis, Gobis e outros nem precisam de plantas, como em meios estuarinos ou de manguezal, que também não precisam. Muitas plantas não suportam tanques amazônicos de água escura, de muita madeira e folhas, e seus peixes podem viver bem (ex: Neons e outros tetras). Outro exemplo: ciclídeos africanos não vivem naturalmente em meios plantados, no seu habitat natural, e sim no meio de pedras e areia; mas imagine um criador que compra peixes herbívoros e em seu aquário apenas possui rochas? Estresse na certa para os peixes. Vale lembrar que mesmo nesses casos de peixes que vivem bem sem plantas, ocorre deles precisarem achar vegetação na hora de sua reprodução.

Por fim, segundo o exposto acima, não queremos dizer que nenhum aquário plantado vá passar por problemas. As TPAs constantes, a alimentação bem dosada, a fauna bem escolhida e em número razoável para o volume do tanque, uma boa filtragem e circulação, bem como uma iluminação adequada serão fatores constantes e cruciais para o bom andamento de qualquer aquário, seja ele com ou sem plantas naturais. 

Sobre o autor:
Katsuzo Koike
Autor: Katsuzo Koike
Katsuzo Koike, aquarista e laguista incurável, é natural de Recife-PE e professor com doutorado em História. Filho do piscicultor japonês Johei Koike, ex-professor da Universidade Rural de Pernambuco, seu gosto pelo aquarismo começou na década de 70 por influência de seu pai, que durante a sua infância, sempre o levava ao Centro de Piscicultura da UFRPE para acompanhar a criação de diversas espécies de peixes, tendo crescido sempre próximo à esse meio. Prioriza sempre a qualidade de vida dos seres em relação à beleza e ao paisagismo do aquário.